Companhia de Saneamento Básico registrou 19,2 mil fraudes no período e calcula que 3,7 bi de litros tenham sido desviados
02 de fevereiro de 2016 | 03h00
Calcula-se que 3,7 bilhões de litros de água potável tenham sido desviados entre janeiro e dezembro do ano passado só na Grande São Paulo e na região de Bragança Paulista, onde ficam as represas do Sistema Cantareira. O volume é suficiente para abastecer uma cidade do porte de Diadema, com cerca de 400 mil habitantes, durante um mês inteiro. Segundo a Sabesp, o valor cobrado dos fraudadores foi de R$ 32,6 milhões, quase o dobro (87%) do débito apurado em 2014: R$ 17,4 milhões.
O superintendente de auditoria da Sabesp, Marcelo Fridori, afirma que a operação de fiscalização, chamada “caça-fraude”, foi intensificada em 2014, com o início da crise hídrica, para tentar reduzir o desperdício de água. “Claro que recuperar o valor financeiro é positivo, mas o objetivo principal da Sabesp com essa ação é combater o desperdício de água. O fraudador não está preocupado em economizar água porque não vai pagar pelo alto consumo”, afirma.
As ações na rua contam com o apoio da Polícia Civil e são executadas a partir de denúncias recebidas pelos telefones 181 e 195 ou de suspeitas levantadas por uma equipe de inteligência da Sabesp, que monitora o consumo dos clientes, principalmente os comerciais e industriais. “Se o consumo cai de forma abrupta ou difere muito da média no seu ramo de atividade, uma equipe vai a campo vistoriar o imóvel para verificar se há fraude”, explica Fridori.
Casos. Este foi o caso de um posto de combustível em Santo Amaro, zona sul paulistana. Ao realizar uma vistoria no local, em abril, a fiscalização constatou que havia um desvio no ramal da ligação de água. O dono do estabelecimento foi preso e indiciado por furto, cuja pena varia de 1 a 4 anos de reclusão. O consumo atípico também levou a fiscalização a flagrar o furto em um motel na Vila Mariana, zona sul, em fevereiro. O hidrômetro estava com o lacre rompido e o relógio que mede o consumo tinha sinais de manipulação. O proprietário também foi indiciado.
Segundo a Sabesp, foram mais de 200 mil vistorias feitas e 507 boletins de ocorrência registrados. Entre eles está o caso de um lava-rápido na Freguesia do Ó, zona oeste da capital. Com base em uma denúncia, uma vistoria feita em 8 de abril flagrou que havia um arame no hidrômetro impedindo a medição do consumo. O proprietário, Daniel Dotta Mitri, foi detido e só saiu da prisão no dia seguinte, após pagar fiança de R$ 1,3 mil. “Eu assumi porque sou o proprietário, mas não fomos nós que fizemos isso”, disse Mitri, que ainda recebeu uma multa de R$ 12 mil, da qual está recorrendo. “Nossos portões ficavam abertos. Qualquer um tinha acesso ao hidrômetro.”
O balanço da Sabesp mostra que 16,5 mil irregularidades (86% do total) foram identificadas em imóveis residenciais, como um prédio em São Bernardo do Campo e um condomínio em Itaquaquecetuba, ambos com ligações clandestinas. Mas comércio e indústria, como duas galerias na Praça da República e uma feira comercial importante no Brás, ambas no centro da capital, respondem por mais da metade do volume de água desviado. Nesses dois setores, os flagrantes de furto cresceram 16% e 37%, respectivamente.
“E já temos uma lista de 60 agentes fraudadores, dos quais alguns já foram presos mais de uma vez. Estamos ajudando a inteligência da polícia a identificar essas quadrilhas especializadas”, afirma César Augusto da Silva Santos, gerente de auditoria da Sabesp.
Extraído de https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,furto-de-agua-da-sabesp-cresceu-24-em-2015,10000014506